Filme inaugural : "Em cada coração um pecado".
Fundadores : "Empresa Pitombo & Coelho", depois "Salomão & Cury Ltda.".
Endereço : Rua Princesa Isabel, 444
Presidente Venceslau - SP
Capacidade : 760 lugares
Em funcionamento ? : Não
As matinês dos antigos cinemas do interior
Certa noite, em meados do ano de 1969, passeava pela Avenida D. Pedro II, em Presidente Venceslau, interior do Estado de São Paulo, conduzido pelas mãos do meu pai. Contava apenas com quatro anos de vida! Quase ao final do calçadão da Praça Nicolino Rondó, nas proximidades do Correio, olhei para a esquerda na direção da Estação Ferroviária, a antiga Fepasa, e me deparei com algo fantástico: milhares de baratas gigantescas andando por uma parede. Não entendia o que era aquilo! Questionei o meu pai que na sua simplicidade, respondeu: “Aquilo é cinema, filho!” A passagem inesquecível entrou na memória para sempre acompanhada de uma pergunta: como aquilo é feito? Como pode alguém fazer insetos enormes caminhar por uma parede e depois desaparecer na velocidade da luz? Entorpecido pela cena, olhando para aquela grande tela, tropecei uma ou duas vezes. Trombei num poste de sinalização de trânsito tentando me segurar diante de algo tão fantástico. Foi aí que conheci a chamada Sétima Arte. A intensidade daquela lembrança só fez aumentar quando mais tarde, levado pelas mãos da minha tia Francisca (a Tita), adentrei pela primeira vez no Cine Bandeirantes, na Avenida Princesa Isabel. A paixão pelo cinema nunca mais cessou...
As palavras colocadas aqui serão como fragmentos de saudade que aflorarão no coração daqueles que viveram a infância e adolescência na década de 70, em Presidente Venceslau. Não se trata de retrocesso e nem de sinais de senilidade deste escritor, mas, sim de agradáveis experiências a serem compartilhadas. Felicidade! O passado alegre é um presente para o agora. Neste contexto, o Cine Bandeirantes é o local que marcou gerações de venceslauenses tanto no quesito diversão quanto conhecimento e cultura. E por que não dizer “amoroso”? Afinal, muitos novos casais passavam horas ali confidenciando juras de amor, não é mesmo?
E o que me lembro do cinema? Recordo-me da majestosa construção com entusiasmo. Os cartazes dos filmes eram reproduzidos de maneira gigantesca em pintura manual em toda a sua frente. Havia duas portas de vidro e uma abertura na parede por onde se compravam ingressos. A bilheteria era bem simples e no hall de entrada havia uma pequena “venda”, onde comprávamos bombons, balas, chicletes azedinhos e guloseimas. Chegávamos alguns minutos antes para ver os cartazes de filmes que passariam em breve. Conforme a exibição, as filas de pessoas eram tamanhas que dobravam a esquina da Rua Barão do Rio Branco, até quase lá embaixo, na Rua Almirante Barroso. Para se ter uma idéia do que era isso, filmes como “O menino da Porteira”, com Sérgio Reis e outros com Mazzaropi, tinham platéia espetacular. Era gente prá chuchu...
A imensa sala de projeção era bem alta. As poltronas eram confortáveis. Na frente, cortinas nas laterais e ao centro um enorme pano branco como tela. Do lado direito e do esquerdo ficavam as entradas de acesso aos banheiros aonde só era possível chegar por dois extensos corredores, no fundo. As paredes pareciam muralhas que na parte inferior apresentava uma proteção de madeira até uma altura de uns dois metros. O assoalho aparentava ser de mogno. Nos filmes de ação as perseguições de mocinhos aos bandidos eram acompanhadas pelo bater de pés dos que assistiam neste piso. O barulho e a gritaria da platéia eram emocionantes. Você se lembra destas coisas? Gostava de me sentar bem ao centro. Nas laterais, ficavam os casais de namorados bem à vontade, no escurinho. Eu achava tudo aquilo bem chique e maravilhoso!
Antes da sessão, ouvia-se um prelúdio corriqueiro composto de músicas orquestradas. O aviso de que o filme começaria era sempre com composição clássica “Tema de Lara”. Um convite para que todos se acomodassem! A iluminação era embutida por detrás de desenhos que lembravam pequenos barcos. As luzes eram apagadas de maneira sincronizada. Isso era lindo demais...
A projeção vinha de pequenas aberturas da parte superior do hall de entrada. Geralmente, antes dos trailers de filmes que passariam mais adiante, o famoso Canal 100 mostrava o desenrolar dos velhos clássicos cariocas, principalmente entre Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo, no Maracanã. Entre os humildes torcedores sempre havia alguém sem os dentes da frente, sorrindo afoitamente com os dribles de Garrincha. Rsrsrs... Só depois deste ritual, tudo começava. Cansei de assistir Tarzan, “o rei das selvas”,aos domingos à tarde no Cine Bandeirantes.
Crônica do engenheiro José Renato Sátiro Santiago Junior.
Fontes de pesquisa :
1ª foto: Livro “Enciclopédia dos
Municípios Brasileiros” - Inst. Bras. de Geografia e Estatística - 1957
Fotos restantes doadas, gentilmente, por Dna. Ivani Cury (In memoriam).
Reinauguração do cinema após reforma (de terno preto, Sr. Jorge Cury) |
Sr. Jorge Cury (1º à esquerda) assinando a compra do projetor GP-6 Philips |