São Manuel (Paraguaçu Paulista - SP)

Agora,
Cine Teatro Municipal Lucila Nascimento.

Inauguração : 1957
Endereço : Rua Manílio Gobi, 131 - Centro
Paraguaçu Paulista - SP
Capacidade : cerca de 600 lugares

Histórico :
Após encerrar suas atividades, o antigo cine São Manuel, da Empresa Teatral Peduti, foi adquirido pela Prefeitura Municipal de Paraguaçu Paulista.
Alguns anos depois, foi remodelado, passou a funcionar como cinema e teatro e, em 8 de março de 1986, passou a se chamar Cine Teatro Municipal Lucila Nascimento.
No final dos anos de 1990, o cine-teatro encerrou suas atividades e, assim, permaneceu por sete anos.
No ano de 2000, após avaliação do setor de engenharia municipal, constatou-se a necessidade de interdição do prédio por falta de segurança nas instalações elétricas. O edifício permaneceu fechado por um longo período, sendo reaberto em 19 de outubro de 2007, após reforma.

Segue o histórico através de notícias :

Notícia em 14/01/2012 
Cinema de Paraguaçu Paulista recebe mais de 35 mil pessoas em 2011

O Cinema Municipal da Estância Turística de Paraguaçu Paulista está atingido uma marca significativa de público em cada sessão realizada. Para se ter uma ideia, no ano de 2011 mais de 35 mil pessoas estiveram no cinema. Já agora em 2012, somente nas duas primeiras semanas do ano, o cinema já recebeu um público de mais de duas mil pessoas. Segundo Danilo Salomão, funcionário do cinema, esse resultado é fruto de um bom trabalho que vem sendo realizado pela equipe.

“Ele ficou sete anos fechado e com isso as pessoas perderam o hábito de frequentar o cinema. Quando foi reaberto, há mais de seis anos, nós iniciamos um trabalho para divulgar o cinema a população. É um trabalho difícil, mas vem dando certo. Estamos conseguindo formar um público que vem descobrindo o quanto é gostoso assistir um filme no cinema. Desde o início, nós procuramos trazer para a cidade grandes lançamentos e os tipos de filmes que mais agradam nosso público. Acredito que estamos no caminho certo. O nosso maior problema é a questão de lançamentos. As distribuidoras de filmes recebem certo número de cópias e dão prioridade para as capitais, para os grandes cinemas, que tem um ingresso mais caro e um número maior de público, mesmo assim, nós estamos vencendo este problema e procurando trazer os lançamentos no menor espaço de tempo possível. Graças ao nosso público, já estamos nos equiparando aos cinemas de cidades maiores, como Marília e Presidente Prudente. Já estamos até a frente da vizinha cidade de Assis, que tem quase o dobro de habitantes. Eles estão exibindo nesta semana o filme “Amanhecer” e nós já o passamos a cerca de 10 dias. Isso prova que estamos nos tornando fortes na questão cinema”, disse Danilo Salomão.

O cinema de Paraguaçu Paulista conta com 556 lugares, mas para uma melhor acomodação, já que crianças de até 3 anos não pagam, é limitada a venda de apenas 450 ingressos por sessão. Outro atrativo do cinema da Estância Turística é que o público paga pelo ingresso de qualquer filme o valor de apenas R$ 4,00.

“O ingresso aqui é muito barato, apenas R$ 4,00. Acredito que outras pessoas vão adquirir o hábito de ir ao cinema, principalmente, porque o ingresso é barato. Esse valor de ingresso não é praticado em outros cinemas, nem mesmo em dias de promoção, só em Paraguaçu Paulista”, disse Danilo Salomão. 

Notícia em 24/07/2013 
'Cine Teatro Municipal' é fechado para avaliação estrutural

O Cine Teatro Municipal Lucila Nascimento está com as atividades temporariamente suspensas em virtude da chuva de granizo que se precipitou em Paraguaçu Paulista no último sábado, dia 20 de julho.

O temporal causou prejuízos na estrutura do local, que teve o telhado danificado e não oferece condições para exibição de filmes ou espetáculos, nem para receber o público. 

No momento, uma avaliação criteriosa será realizada na estrutura do Cine Teatro, analisando o espaço físico e a parte elétrica que também pode ter sido prejudicada. Depois disso, será providenciada a reforma necessária para, posteriormente, ser definida a data correta de retorno das atividades normais.
Fonte: Marcelo Bonder/Jornal O Farol. 
Notícia em 17/10/2015 
Reforma do Teatro Municipal de Paraguaçu segue com reformulação do espaço
O Cine Teatro Municipal de Paraguaçu Paulista funciona em edifício particular construído pelo empresário Emílio Peduti e foi inaugurado em 1957, onde funcionou o Cine São Manuel até a década de 80, quando encerrou suas atividades cinematográficas. Em 1985 foi desapropriado pela Prefeitura Municipal, que procedeu ampla reforma, adaptando o espaço para funcionar como Cine Teatro, sendo reinaugurado em 08 de março de 1986, quando passou a chamar-se Cine Teatro Municipal Lucila Nascimento.
No final de 2000, após avaliação do setor de engenharia municipal, constatou-se a necessidade de interdição do prédio por falta de segurança nas instalações elétricas. O edifício permaneceu fechado por um longo período, sendo reaberto em outubro de 2007, após reforma.
Desde então ocorre a exibição diária de filmes, além da realização de eventos culturais e apresentações de espetáculos de teatro, circo, música e dança, atraindo um publico de aproximadamente 23 mil pessoas durante o ano todo.
A atual administração não tem medido esforços em atender com qualidade, tanto a clientela, quanto aos grupos artísticos, que ali se apresentam, bem como enfrentar as dificuldades que se apresentam no custeio diário com a manutenção do prédio e seus equipamentos, que tem servido à grandes espetáculos das mais variadas formas de expressão artística, envolvendo artistas da terra e nomes internacionais.
Pensando em melhorar ainda mais essa condição, a Prefeitura Municipal conseguiu a aprovação, junto ao DADE – Departamento de Apoio ao Desenvolvimento das Estâncias do Governo de São Paulo, de um projeto que irá investir R$ 475.005,70, com vigência até novembro de 2016, quando a empresa vencedora da licitação - MH Pereira Construção Civil – de Paraguaçu Paulista, estará efetuando os seguintes serviços: reforma total da cobertura, piso, pintura e revestimentos; modificação do acesso ao palco e camarins; reforma das instalações hidráulicas e elétricas; implementação das instalações de combate e prevenção de incêndios; e as providências para dotar o prédio de total acessibilidade. A ideia é promover toda a reforma sem que haja a perda de acústica e suas principais características de uma grande casa de espetáculos.
Fonte: Assessoria de Comunicação da Prefeitura Municipal.

Notícia em 29/12/2016 
Alckmin libera mais de R$ 1,3 milhão para Paraguaçu Paulista

Governo do Estado e prefeituras de 14 cidades paulistas assinam convênios para investimentos de quase 25 milhões de reais. O dinheiro será repassado para os municípios por meio do Departamento de Apoio ao Desenvolvimento das Estâncias, o Dade.
A prefeita eleita Almira Garms esteve presente na cerimônia de assinatura dos convênios, realizada nesta terça-feira (27), no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo.  Ela informou que foram destinados R$ 100 mil para Paraguaçu, verba que será aplicada na elaboração do Plano Municipal de Turismo; além de R$ 1.253.419,46, para complementação e remodelação do Cine Teatro Municipal Lucila Nascimento.
“Nossa cidade tem forte potencial turístico e devemos investir essas verbas na melhora da infraestrutura, para atrair mais visitantes para Paraguaçu”, declarou a prefeita eleita Almira Garms.  
Já o governador Geraldo Alckmin afirmou que “esses investimentos estimulam o turismo, geram emprego, melhoram renda e dão mais conforto à população”.
O secretário-chefe da Casa Civil, Samuel Moreira, explicou que “os recursos deverão ser aplicados em obras de infraestrutura, revitalização e programas ligados ao desenvolvimento do turismo em municípios reconhecidos como estâncias, entre balneárias, turísticas, hidrominerais e climáticas”.
Além de Paraguaçu Paulista, serão beneficiados com os convênios os municípios de Aparecida, Batatais, Eldorado, Guaratinguetá, Itu, Joanópolis, e Piraju. Além de Poá, Praia Grande, São José do Barreiro, Salesópolis, Salto e Santos.
Desde o início do ano, o Governo do Estado já firmou 955 convênios com 531 municípios paulistas e entidades, totalizando R$ 824 milhões em investimentos.
Fonte: Silvana Paiva/RadiAtiva FM.


Set./2012

Set./2012

Set./2012

19/07/2017

19/07/2017

19/07/2017

19/07/2017

Palco e plateia - 19/07/2017

Palco, plateia e saída lateral - 19/07/2017

Cabine de projeção - 19/07/2017

Poltronas estofadas - 19/07/2017

Cabine de projeção - 19/07/2017

Cabine de projeção - 19/07/2017

Cabine de projeção - 19/07/2017

Cabine de projeção - 19/07/2017

Eu e o Reginaldo, projecionista - 19/07/2017

Cabine de projeção - 19/07/2017

19/07/2017

19/07/2017

19/07/2017

19/07/2017

Antigo projetor do cinema exposto no museu da cidade - 19/07/2017

Antigo projetor do cinema exposto no museu da cidade - 19/07/2017

Antigo projetor exposto no museu da cidade - 19/07/2017

Antigo projetor do cinema exposto no museu da cidade - 19/07/2017

Antigo projetor exposto no museu da cidade - 19/07/2017

Antigo projetor exposto no museu da cidade - 19/07/2017

Vila Operária (Assis - SP)


Cinema da Vila Operária
Mais conhecido como, Cinema do Padre Aloísio Bellini.

Endereço : Praça São José Operário, s/nº - Vila Operária
Ao lado da Paróquia Nossa Senhora das Dores.
Assis - SP

Em funcionamento ? : Não. Virou salão para eventos da paróquia.

Fotos : Antonio Ricardo Soriano - Julho/2017







Bandeirantes (Novo Horizonte - SP)

CINE BANDEIRANTES: VIDA E MORTE

Por Francisco Carlos Lopes, ou simplesmente Chico Lopes. ficcionista, poeta, artista plástico, tradutor, crítico literário e de cinema.

Cine Bandeirantes - Foto da página Novo Horizonte-SP / Fotos históricas


Acho que, o que primeiro me vem à memória, sempre, é a porta, barulhenta (não se abria ou fechava sem um estrépito, que às vezes parecia refletir a irritação do funcionário que a erguia); porta de ferro com losangos vazados, parecida às dos açougues, era fácil olhar para os cartazes, para a movimentação lá dentro, do gerente, do homem que cuidava da projeção e que, por vezes, se improvisava apanhador de ingressos. Para mim, ali estava o mistério mais excitante do mundo.

Foi particularmente assim, um mundo sagrado, enquanto não pude entrar nos filmes proibidos para menores de 14 anos, e ficava à porta, tentando adivinhar o que seriam os filmes interditados, encantado com os cartazes, a misteriosa linguagem ali impressa – “more than” e “and introducing”, por exemplo, eram para mim nomes de atores ou atrizes, e o que poderia significar “ac.comp.nac.” * ?

* “Ac.comp.nac” era simplesmente “Acompanha Complemento Nacional”, ou seja, algum noticiário curto de Herbert Richers ou da Atlântida sobre políticos e suas inaugurações e outras festividades cívicas rançosas, que víamos com impaciência, esperando pelo filme.

Curioso é que eu não tinha um gênero cinematográfico preferido; para mim, ir ao cinema significava aceitar tudo que a tela trazia. Mas me desgostava um pouco com os filmes de guerra, excessivamente masculinos, em preto e branco, sem romance, sem mulheres para dar àquilo o encanto devido. Nos faroestes, ficava fascinado pelos índios especialmente: com os ornamentos, as caras pintadas, as cores, a gritaria, o cerco ritual às diligências ou as revanches à cavalaria, eram um perigo mágico, um elemento com não sei quê de transcendente que vitalizava os filmes.

Quando vivia isso, penso que era ainda um menino de calças curtas, que tinha uma paixão similar pelos gibis. Ia com pilhas no braço trocá-los, à entrada das matinês (“vesperal às 14 horas”). Tarzan, Zorro, Fantasma, Kid Colt, Cavaleiro Negro. Gostava mais dos da Ebal (a outra editora onipresente era a Rio Gráfica), porque o papel parecia mais nobre, lisinho, e as capas eram mais bonitas. Eu escrevia um “F.C.L” (de Francisco Carlos Lopes, meu nome completo) e sobre minhas iniciais desenhava uma coroa, nas capas. Gastava um dinheiro, arrumado sabia Deus como por minha mãe, com gibis novos, nas bancas de seu Tiani e seu Armando. Meu mundo era esse, e, se bem eu tivesse consciência da pobreza da família, como é que iria abrir mão de meus pequenos sonhos?
   
Passavam circos pela cidade, mas, apesar de alguns terem atrações bem impressionantes, eu não me entusiasmava muito. Creio que fui apenas a um ou dois espetáculos. Teatro, não havia. Cinema, gibi e rádio eram tudo. Desenhava muito também, a lápis de cor, naqueles cadernos de papel precário, imitando mal as histórias em quadrinhos, criando as minhas, inventando também cartazes para filmes imaginários (nesses, as atrizes e os atores levavam nomes como “More than” e “And introducing”). Eu só vim a aprender Inglês lá pelos dezesseis anos.

Minhas irmãs tinham peso sobre meus gostos, Elvira principalmente, pouco mais velha que eu. Assim, me lembro de que compartilhava do entusiasmo dela por galãs como John Gavin, Tab Hunter, Troy Donahue, Elvis, Rock Hudson, estrelas como Sandra Dee e Debbie Reynolds, mas minhas irmãs mais velhas, Josefa e Santa, não iam ao cinema, que eu me lembre, a menos que acompanhadas pelos namorados ciumentos. Elas tinham predileção pelos melodramas e 
“A ponte de Waterloo” era seu filme mais lembrado. Josefa tinha como ídolos Gardel, Libertad Lamarque e Pedro Infante. Aliás, a preferência da família eram os filmes espanhóis ou latino-americanos; mesmo eu e Elvira nos animávamos mais com Joselito, Marisol, Miguel Aceves Mejia, Sara Montiel. Meu pai tinha habituado a todos com seu espanhol malaguenho abrasileirado e, mesmo não estando presente a maior parte do tempo, trabalhando nas fazendas, a língua dominava a casa, adotada sempre que um filho queria se dirigir a ele e, assim, tudo que vinha no idioma espanhol, fosse cinema, fosse música, parecia-nos mais próximo, melhor.

Nada me marcou tanto, nessa época, quanto a impossibilidade de ver “Os pássaros”, de Hitchcock. Proibido para menores de 14 anos, eu tinha lido em “Filmelândia” ou “Cinelândia” sobre as filmagens, sobre a preparação da modelo Tippi Hedren para o trabalho de atriz, e achava aquilo o que havia de mais apaixonante. Foi uma luta estúpida e inglória à porta do cine Bandeirantes tentar convencer o gerente de que eu tinha idade para entrar. Fiquei desolado, circulando pela frente, olhando três mil vezes o cartaz, esperando um gesto de complacência que não veio. Sem arredar pé da entrada, ouvi a projeção, os gritos das gaivotas e corvos, tentando “frestar” alguma coisa quando alguém abria as cortinas bordô das passagens para a sala onde se projetava o adorado, o inacessível filme. Foi ali mesmo que, anos depois, vi “Marnie – Confissões de uma ladra”, um Hitchcock que chegou precedido por críticas não muito positivas, mas me pareceu raro. Os sustos da heroína com a cor vermelha pareciam ter algum paralelo com angústias minhas que nem eu mesmo sabia quais e até hoje o revejo como um melodrama extraordinário, um dos mais refinados estudos da alma feminina.

Consigo me lembrar melhor de Sarita Montiel que dos faroestes, Tarzan ou outras coisas mais adequadas a um moleque. Sarita me fascinava, mas não era bem aceita por minhas irmãs, à exceção de Elvira. Sua sensualidade, seus papéis de “mulher de má vida com um grande coração”, não quebravam certas resistências puritanas. Minha mãe achava o mesmo; ademais, objetava que ela não cantava, mas “falava” (a mesma crítica que fazia a João Gilberto; ela preferia vozes potentes e melosas, como a do insuportável Agnaldo Rayol).

Apesar de relapsos com relação a missas e outros ofícios católicos, havia na minha família, exclusivamente na parte feminina, um catolicismo rígido. Minha mãe era severa demais no julgamento de atrizes, e de qualquer mulher que se destacasse um pouco mais, era fácil ouvi-la dizer que “não prestava”. A minha ideia de mulheres que “não prestavam” era, portanto, ligadas a fêmeas muito sorridentes, de batom farto, espontâneas, sensuais, cigarros na boca, frequentadoras de boates, míticas habitantes de grandes cidades. Mulheres que eu obscuramente gostaria de conhecer na cama, mas, Deus me livre, mal pensava isso, sentia que seria castigado pelos céus. Se uma vaga imitação de uma daquelas mulheres me olhasse seriamente, eu sairia correndo. Elas eram desejáveis e proibidíssimas. “Boate”, na boca de minha mãe e minhas irmãs, soava como sinônimo de todos os pecados do mundo.

Ficaram-me os finais de “Mi ultimo cuple”, “A rainha do Chantecler”, que mais? Um toureiro morria por Sarita; ela cantava “pisa, morena, pisa com garbo/ que un relicário, un relicário, te voy hacer...”. Chorávamos desesperadamente. Por amor a um homem, tornava-se freira, e lá estava cantando uma versão de “Sonho de amor” de Liszt no coro de uma igreja, anônima, no casamento de sua filha; em “A rainha do Chantecler”, seu namorado, por descobri-la uma cantora de cabaré, vai desapontado, lânguido, atirar-se ao mar, e ela chega tarde demais ao cais cercado pelas “ondas revoltas”. Eu adorava aquilo. Nada me parecia tão dramático, ninguém tão bela e injustiçada.

Tenho uma lembrança luminosa de Doris Day, mas, na verdade, não cheguei a ver um clássico como “Confidências à meia-noite” no seu tempo, porque era proibido para menores e minhas irmãs insinuavam que se tratava de algo pecaminoso. Doris Day!

A bilheteira do cine Bandeirantes chamava-se Glória, apelidada de “Glorinha”, e o nome lhe era muito apropriado. Eu a achava parecida a Romy Schneider. Era vivaz, muito solícita e simpática, e só o fato de adquirir um ingresso com ela parecia garantir a qualidade do espetáculo. No quadrado do guichê em que só tínhamos acesso a seu rosto alegre, ela era a melhor antecipação para essa cerimônia fantástica: ver o que a tela nos estava reservando lá dentro. Era entrar, então, e entre outros ritos, espantar com “xô, xô”, a grande ave pousada na montanha no crédito de abertura da Condor Filmes.
  
O prédio era velho, de uma pintura amarela já desbotada, com grandes barrados de um verde-escuro, até onde me lembro. A sala de espera era ampla, com poltronas, e tinha uma bomboniére que me parecia o máximo em luxo; chocolates, para mim, era coisa de rico, só para ser vista e admirada. Muito mais tarde, nos dias em que havia um pouco mais de cruzeiros no bolso, o que comprava ali eram balas Pomona, Cevada e Torino sabor anis (esta, por causa da cor azul, que me encantava). Ficava fascinado pelos cigarros de chocolate Pan, a barra da Falchi, com uma paisagem suíça na embalagem, as caixinhas de Mentex. Paguei caro pela obsessão com balas e doces acompanhada por uma grande aversão a dentistas: aos 14 anos, já usava uma feia ponte móvel, de garras. Bonitinho, envergonhado, não podia sorrir e, em geral, ficava sisudo nas fotografias para que meus dentes feios não ficassem patentes.
    
Tive uma coleção de figurinhas de astros e estrelas. Lembro-me de colá-las no álbum com uma cola caseira, muito ruim, usada para fazer papagaios, com farinha de trigo e água. Filmes como “Ben-Hur”
“El Cid” também viravam figurinhas, e cheguei a ter alguns desses álbuns, mas creio que não os completava – vivia me deslumbrando com tudo e tinha impulsos consumistas que se anulavam uns aos outros. Figurinhas de jogadores de futebol e estampas do sabonete Eucalol (guardo vagamente o cheiro delas) era outra mania. 
    
Não sei quantos lugares o cine Bandeirantes tinha, mas não era um cinema pequeno. Pertencente a uma cadeia que tinha matriz em Catanduva, dividia-se numa sala de projeção grande, com talvez trezentas cadeiras, e num piso superior com espaço menor que era chamado, com malícia, de “lá em cima”. Para lá, dizia-se, iam só os casais de namorados com “más intenções”. Por muito tempo, respeitei-o com temor e estranhamento, como se as coisas que nele acontecessem fossem adultas, misteriosas ou ameaçadoras demais para mim. Sentava-me embaixo e olhava para “lá” com curiosidade e cautela.

Todas essas lembranças remetem aos anos 1960, e, como eu lia muito sobre cinema, sobre música, sobre quase tudo, com uma voracidade ímpar, creio que confundo filmes vistos com filmes sobre os quais apenas li (completando falhas com uma imaginação particularmente exaltada).
    
A seriedade do cinema começa, para mim, com impressões devastadoras deixadas por “Vidas secas”, de Nelson Pereira dos Santos. Não me esqueço do garoto da família de retirantes olhando para as árvores secas da caatinga e repetindo: “Inferno... espeto quente...”. Lembro-me da mulher (a atriz Maria Ribeiro) andando torto com um sapato de salto e uma sombrinha. A cara triste do Brasil.

Tornei-me aficionado do cinema brasileiro com esse filme. Também, começava a ter a chamada “consciência social” com a minha primeira leitura séria - que fora «Capitães de areia». No cine Bandeirantes, vi “Cara a cara”, de Júlio Bressane, “Brasil 2000”, de Walter Lima Jr., “Terra em transe”, “O dragão da maldade”, “Os herdeiros”... O som era horrível, mas me fascinavam as imagens, a vitalidade, a novidade daquilo, um cinema que não era nem o americano otimista de Debbie Reynolds nem o espanhol piegas de Sarita Montiel.
     
Aconteciam coisas inesperadas, naquele cinema. Não me esqueço de um filme de Agnes Varda, “Cléo das 5 às 7”, em que a heroína, sabendo que vai ou pode morrer a uma determinada hora, vaga pela cidade, joga tempo fora. Tive ali a primeira impressão de alguma coisa próxima ao trágico da existência, de uma seriedade que a arte cinematográfica poderia ter e sobre a qual eu nunca havia pensado. O mesmo com “You're a big boy now”, do início da carreira de Coppola. E com o “Fahrenheit 451”, de Truffaut, que consegui associar, intuitivamente, a algumas imagens de Hitchcock. Com um estranho filme inglês chamado “Rapture”, em preto e branco, de que não me lembro de quase nada, exceto uma mulher à beira de um mar furioso, num rochedo? nos braços de um homem. 

Com Gilberto Rigamonti fui ver “Persona”. Pensávamos tratar-se de um filme de lesbianismo, com o sórdido e promissor título brasileiro – “Quando duas mulheres pecam”. Éramos só os dois no cinema. Um filme daqueles, no meio da semana, não tinha como atrair senão excêntricos. Saí fascinado, sem ter entendido bem. (Na verdade, eu e Gilberto gostávamos era de comédias, e descobrimos juntos ali a dupla Franco Franchi e Ciccio Ingrassia, italianos hoje esquecidos, que nos pareciam o máximo).

Mas vi lá ainda outro Bergman, “Vergonha”, e, na verdade, eu já me convencera de que o cinema podia ser Cinema, arte extremamente séria, e andava muito crítico em relação a tudo. De Fellini vi aquele episódio “Toby Dammit”, de “Histórias extraordinárias”, de Pasolini o faladíssimo “Teorema”, esperado porque meio mundo queria ver Terence Stamp nu – era um enorme atrevimento, para a época. Vi “O bebê de Rosemary”, de Polanski, e o que mais me impressionou foi a passagem da New York contemporânea para uma cidade de Idade Média com as imagens do edifício Dakota. Outra impressão forte me foi causada por “A dama enjaulada”, com Olívia de Havilland trancada naquele elevador caseiro e psicopatas, liderados por James Caan, soltos pelo casarão. A campainha, que ela acionava freneticamente, não funcionava, devido a uma pipa enroscada num fio do poste, na rua, e os carros passando indiferentes: era o feriado de 4 de julho. O que não sofri com aquela mulher!
    
Os filmes de suspense tanto me atraíam quanto me angustiavam a ponto de eu ficar dominado pelo medo, por cismas absurdas, semanas a fio, preocupando a minha família, que temia as consequências de meu nervosismo. “A mulher de palha”, com Gina Lollobrigida e Sean Connery, pregou-me um susto histérico. Num determinado momento, quando os amantes descem do avião com o marido dela morto, mas colocado em sua cadeira de rodas como se vivo estivesse, na passagem pela alfândega talvez, os óculos do defunto caem e seu olhar se projeta sobre o público. Saí correndo do cinema e correndo fui até a igreja, tirando minha mãe da missa para contar de meu pavor. Ela passou a achar que eu não podia mesmo ver esse tipo de filme, o que tornava a atração por ele ainda mais intensa.
   
Outros momentos importantes: “Bonnie & Clyde”, de Arthur Penn, “The killing of sister George”, de Richard Brooks, “Quem tem medo de Virginia Woolf?”, “Ardil 22”, “A estrela sobe”, “O rei da noite”, “O mensageiro”, “A bela da tarde”... Creio que a maior parte de meu encantamento por cinema deriva daí, dessas sessões dos anos 1960 e pedaços dos 1970.

Um pouco da velha magia ainda sobreviveu até certa altura dos anos 1980. Vi e revi, em sessões seguidas, o “Apocalypse now”, de Coppola, e “Blade Runner – O caçador de andróides”, de Ridley Scott. Naqueles tempos fundáramos o jornal “A Cidade”, e Claudemir Bellintane, o criador e diretor, lutou para que ali acontecesse uma Semana da Cultura, que foi um primeiro esforço no sentido de trazer algumas coisas culturalmente inusitadas para Novo Horizonte. Assim, tivemos exposições e conferências com artistas e promotores culturais de São José do Rio Preto, e o cinema passara a se chamar Windsor e a contar com palcos e camarins. Ele conseguiu também trazer raridades do cinema alemão. Assim, vi deslumbrado, “O enigma de Kaspar Hauser” e “Stroszeck”, de Herzog, revelações fundamentais de um cinema diferente para mim.

De Windsor, tempos depois, o cine Bandeirantes passou a chamar-se Universus Cine Teatro. Resistiu mal ao desinteresse por cinema nos anos 80, adaptando-se: filmes pornográficos, convenções, palestras de evangélicos e Seicho-no-iê, apresentações de teatro amador, dança e até mesmo um show pornô ao vivo, que provocou a ira do padre da cidade.

O quê havia para ver, depois de algum tempo, em filmes pornográficos? O mais triste era constatar que a masturbação e a ida a um filme desses eram toda a vida sexual possível na cidade, para a maior parte dos frequentadores. Sexo, para eles, era isso, essa feiura ávida, composta de umas tantas variações monótonas, nada que diferisse muito de cachorros engatados na rua ou éguas viciosas para “barranquear”. As conversas eram variações daquelas que eu ouvia entre os moleques de escola – parecem conter sempre a mesma carga de ardor desesperado, machismo cruel e ignorância brutal – os perpétuos sussurros rancorosos de predadores privados da carne da caça.

Um dia, fui-me embora de Novo Horizonte e o único cine Bandeirantes digno de ser lembrado era o que não existia mais. O Universus Cine Teatro sabia que continuava lá. Mas, já não me importava o que fosse ou para que servisse. O encanto estava perdido. Nem me espantei quando, muitos anos depois, não o reencontrei mais: fora substituído por uma galeria de lojinhas de comércio diversificado.



Em 2010, Chico Lopes viu um quadro que de cara me apaixonou: Cinema de Nova York, do grande pintor norte-americano Edward Hopper. Resolveu fazer dele uma ousada releitura: colocando, ao invés da loura que estava a um canto solitária, outra figura: a de um homem apaixonado que bebe solitário num balcão, tendo ao lado uma gaiola. Para completar esse homem solitário cuja figura delgada e longilínea evoca a de James Stewart, o cartaz de um filme. E aí entra a imagem esverdeada de Kim Novak em "Vertigo", "Um corpo que cai", de Hitchcock.

Inauguração : 1942
Exibidor : Empresa Paulista de Cinemas
Endereço : Rua 15 de novembro, 888 - Centro
Novo Horizonte - SP
Capacidade : cerca de 600 lugares
Nos anos de 1980, o cine Bandeirantes passou a se chamar Windsor e, depois, Universus Cine Teatro.
Em funcionamento ? : Não. Virou uma galeria de lojas.


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BIBLIOGRAFIA DO BLOG

PRINCIPAIS FONTES DE PESQUISA

1. Arquivos institucionais e privados

Bibliotecas da Cinemateca Brasileira, FAAP - Fundação Armando Alvares Penteado e Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Mackenzie.

2. Principais publicações

Acervo digital dos jornais Correio de São Paulo, Correio Paulistano, O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo.

Acervo digital dos periódicos A Cigarra, Cine-Reporter e Cinearte.

Site Arquivo Histórico de São Paulo - Inventário dos Espaços de Sociabilidade Cinematográfica na Cidade de São Paulo: 1895-1929, de José Inácio de Melo Souza.

Periódico Acrópole (1938 a 1971)

Livro Salões, Circos e Cinemas de São Paulo, de Vicente de Paula Araújo - Ed. Perspectiva - 1981

Livro Salas de Cinema em São Paulo, de Inimá Simões - PW/Secretaria Municipal de Cultura/Secretaria de Estado da Cultura - 1990

Site Novo Milênio, de Santos - SP
www.novomilenio.inf.br/santos

FONTES DE IMAGEM

Periódico Acrópole - Fotógrafos: José Moscardi, Leon Liberman, P. C. Scheier e Zanella.

Fotos com publicação autorizada e exclusivas para o blog dos acervos particulares de Joel La Laina Sene, Caio Quintino,
Luiz Carlos Pereira da Silva e Ivany Cury.

PRINCIPAIS COLABORADORES

Luiz Carlos Pereira da Silva e João Luiz Vieira.

OUTRAS FONTES: INDICADAS NAS POSTAGENS.